quarta-feira, 14 de julho de 2010

Dia do Amigo

“Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! ” Vinícius de Moraes

Raquel, Regina, Graziela, Zeila, Patrícia, Aninha, Juliana, Rossana, Adriana, Denise, Eliete, Soraia, Bia, Roberlei, Ewandro, Beto, Zé, Marquinho… Em cada e em todas as fazes de nossas vidas, anjos disfarçados de pessoas costumam se aproximar da gente. Pra cada anjo disfarçado, um nome diferente. Em determinados momentos um deles está mais próximo, depois um bocadinho mais distante mas basta um reencontro para a conversa continuar como se nunca tivesse acabado. Amigo é amigo. Pode passar o tempo, a vida traçar estradas com curvas, te levar pra distante mas ele permanece lá, no coração, na memória, ou seja, junto.
Das brincadeiras na infância, na cumplicidade da adolescência, te abençoando no altar no dia do seu casamento, dando ouvido às suas mesmas reclamações. Só amigo, melhor AMIGO pra ter tanta paciência. Pra perdoar que você esqueceu do nome dele na relação acima, porque sabe o quanto é distraída. Pra refazer conosco mentalmente a mesma história, dez mil vezes. Nossas dores de amores, medos, angústias, receios, incertezas. Só mesmo AMIGO pra viver o melhor e o pior do nosso lado.

Especialista em distração mental. Para te fazer parar de pensar sempre na mesma coisa (normalmente a que vem te entristecendo), ele arruma mil histórias até conseguir distrair. Conta os mesmos casos oitocentas vezes e você fica ali, balançando a cabeça e fingindo que é a primeira. O amigo, costuma ser da turma do "deixa-disso". Ele te defende quando todos os demais correm. Incrivelmente está do seu lado nas maiores trapalhadas e mesmo quando não está, logo é chamado. E tem paciência. Como amigo é paciente… Vem com os conselhos (as vezes dos mais furados) mas com a propriedade de somente quem te conhece verdadeiramente poderia ter. Amigo de verdade as vezes pressente que você entrará numa enrascada. Te adverte, você não dá ouvido, se encrenca e lá está ele de novo. Você vai ter que ouvir um “mas não te avisei?” umas mil vezes, porém o tom da conversa será mais de piedade que de advertência. Afinal, AMIGO, não desiste nunca de você. A conversa não acaba, como é possível? Os assuntos vão se misturando, embolando, nunca dá pra terminar nenhum. Amigo não julga, ele te entende. E não deixa de gostar de você com todos os seus defeitos e qualidades.

O Dia do Amigo, nesta terça-feira passaria despercebido, não fossem as mensagens da internet que certamente circularão. A data não é comercial e jamais se tornaria. Amigo não se compra. Se tem. Apesar que amigo mesmo não espera um outdoor dizendo VALEU AMIGÃO, embora todos merecessem. Só que nesta terça, que tal passar a mão no telefone, mandar um MSN, deixar um recadinho no e-mail, postar no twitter ou sei lá… mas não esquecer de dizer o quanto sua vida sem amigo seria no mínimo, menos divertida, menos humana e até com muito menos aventura…

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Exemplo de Miranda

Uma das principais dificuldades femininas no mundo corporativo é se fazer respeitar sem levar pelas costas apelidos grotescos como dama de ferro, mulher do diabo e sei lá quantos outros.

Vamos a um exemplo. Quem não se lembra da cena de "O Diabo Veste Prada", com Miranda Priestly (interpretada pela incrível Meryl Streep), jogando seus casacos e bolsas sobre a mesa de suas secretárias que por sua vez sonhavam em ter um emprego daquele, mesmo tendo que aguentar o costumeiro mal humor da “patroa” ? Por outro lado, vamos imaginar o inverso de Miranda. Uma mulher no mesmo cargo, simpática, que respeita os outros, cumprimenta a todos com a mesma dignidade. Sem dúvida esta última poderá ser mais querida porém, certamente, menos respeitada. E o que interessa ao mundo corporativo, ser querida ou respeitada?

O saber se posicionar no trabalho frente às mais diversas situações ainda vem sendo apreendido pelas mulheres. Somos competentes, criativas, dispostas, flexíveis mas ainda nossa principal qualidade pode se tornar nosso pior defeito. A sensibilidade. Cobrar prazo, despedir alguém, ser rigorosa com situações que podem fugir do controle. Dizer não sem a menor culpa.

Quantas vezes ao levarmos uma bronca, as lágrimas nos escorrem dos olhos? Involuntariamente. Como fazer para os outros percebam que somos pessoas “boas” (do bem) e não “bobas” ? E fazer isso sem arrogância nem prepotência. Parece ser tão fácil para os homens.

Longe de discutir competências, muito menos quem é melhor no que admitindo que cada um tem suas qualidades, o que se percebe é que em alguns momentos, ainda repousa sobre a chefia feminina mais esta questão. Além do “ser” a do “parecer ser” também. Difícil? Claro..... Mas desde quando a vida feminina foi fácil?

terça-feira, 6 de abril de 2010

Luta inglória

Eliete, uma amiga muito querida, guardou esse texto que escrevi em fevereiro de 2006. Acho que ela tem razão..... vale a pena postar !

O Jornal da Mulher recebe diariamente centenas de e-mails de assessores de imprensa que divulgam as novidades e informam os jornalistas nas redações dos infinitos lançamentos nas áreas da saúde e beleza. Todas as semanas em todas as redações do país a história se repete. Nós da redação esperamos por novidades e os assessores esperam que os jornalistas as publiquem. Entre lançamentos de sapatos, lingeries, novas fragrâncias de perfumes, existem as pautas sobre os cremes específicos para as unhas, os pés, as pernas, a barriga, para os seios, braços e mãos, rostos e claro, contorno dos olhos. Sim, acredite! Fragmentaram tanto o corpo da mulher que em nossa conta salvaram-se somente nossas orelhas e narizes. Me perdoem, em nariz não, porque existe um adesivo específico para ele que promete eliminar os "cravinhos". Nada contra a tecnologia, aliás, ao contrário, se pudermos nos utilizar dela para melhorar a nossa aparência, aumentar nossa auto-estima, tanto melhor!. Mas um tratamento em especial nos chama a atenção: A CELULITE!

Nesta semana por exemplo, recebemos um release (é assim que chamamos os textos dos assessores de imprensa) com o seguinte título: "Lute contra a celulite 24 horas por dia - Tratamento iniciado na clínica de estética pode ser aprimorado em casa, mesmo durante uma noite de sono!".
Ah! Celulite... as famigeradas bolinhas de aspecto casca de laranja que incomodam tanto! Em uma rápida pesquisa aqui na redação, constatei o que já presumia: todas as mulheres têm. E parece que todas as sabem de cor como tratá-las! Ter uma dieta saudável, evitar gordura e fazer exercício físico. Mas essa frase "Lutar contra elas 24 horas" chamou a atenção. O termo "lutar" normalmente é utilizado contra o câncer, a Aids, as epidemias ou aquilo que se pode evitar. Lutar para sobreviver, lutar pela vida, contra a fome e a miséria. Lutar ainda tem outro significado que é o de guerra, de conquista de território.

Essa ditadura pela beleza e pelo corpo perfeito vem embutindo em mentes cada vez mais jovens - e esta sim é a preocupação - padrões de beleza que são inatingíveis. E enquanto se prega "lutar contra a celulite mesmo dormindo" uma curiosa constatação nas aulas de educação física. São poucas as garotas que se interessam em participar das aulas e dos esportes coletivos como basquete, vôlei...

Fico imaginando se em vez de lutar contra o que é genético não seria mais eficiente cuidar da saúde como um todo. Convenhamos, nunca ouvimos ninguém dizer: "Coitada...morreu de celulite!".
Houve o tempo em que a mulher "tinha que ser" uma dona de casa prendada, depois da luta pela igualdade dos sexos tivemos que ser excelentes profissionais, agora "temos que" ter o corpo perfeito. O que mais será que o futuro nos reserva?

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Se bloquear fosse só dar um clique...

Fico danada da vida com alguns amigos. Pra ser honesta, são meus melhores amigos. São ao todo uns 10 que cabem na minha pequena lista do MSN. Antes, um porém. Uso pouquíssimo o MSN. Não gosto. Com amigo mesmo, prefiro pessoalmente, no máximo telefone. Nem rádio eu tenho que é para poder interagir, falar ao mesmo tempo que o outro, dizer um “você tem razão” ou “isso é péssimo” em cima da voz do outro, sem ter que esperar que a pessoa acabe de dizer a frase para que eu demonstre meu sentimento. Assim, dessa forma transparente, é que me conhecem. Mas meu MSN abre instantaneamente junto ao meu computador logo cedinho. Aqueles 10 da lista sabem que contam comigo 24 horas, porque os adoro. Nem precisariam ler o meu “disponível” logo cedo, eu sei que eles sabem que estou a disposição deles a qualquer momento. São meus amigos ora, não MALAS! Mas ao contrário de mim, eles têm listas enormes de conhecidos. A minha inquietação é que quase a maioria, quando me chama pra conversar aparece com o status no off line. Estavam “invisíveis”. Eles tentam me explicar - sem que me façam entender exatamente - que se aparecem on line, outras pessoas os “chamarão” e será impossível trabalhar. Quem incomodaria um amigo com bobagens no meio do trabalho? Só se for o tal "mala". E se for "mala"o que é que ele está fazendo na sua lista do MSN? Que coisa de maluco, eu hein? Ora... se não for pra usar por que ter? Já os avisei que vou cancelar minha conta. Todos riram!

Mas uma coisa tenho que concordar. Como nossas relações pessoais seriam mais fáceis se tivéssemos sido programados internamente como o MSN.Primeira grande vantagem seria bloquear, deletar e excluir imediatamente quem não gostamos. Pensou que maravilha? A partir de um clique quem nos perturba deixaria de existir. Namorado pisou na bola, bloqueia. Ele se arrependeu, voltou carinhoso, desbloqueia. Te esnobou, mentiu, saiu com sua melhor amiga? Bloqueia, deleta e exclui. A mãe poderia parecer com o status “ausente” depois da décima vez que o filho a chamasse desnecessariamente. Apareceríamos com um símbolo de "ocupado" toda vez que estamos com pressa (porque é exatamente nessa hora que aparece alguém pra nos roubar ainda mais tempo!) . E todos nós poderíamos ser invisíveis para saber como é que o mundo funciona longe dos nossos olhares. Pensando bem, melhor não. Tem coisa que é melhor nem saber.

Quando nos decepcionamos com um amor, procuramos bloqueá-lo dos nossos pensamentos. Difícil é conseguir. Quando a gente menos percebe lá está a cabeça relembrando a emoção do primeiro beijo ou o andar de mãos dadas. Bloqueia, mas não exclui. Com um pouquinho de sorte, o tempo irá por si só apagar da lembrança mas de forma menos eficiente que uma reformatação. Ou pelo menos, quase. O sentimento que temos pelas pessoas é que não nos permite deletar, não atender ao décimo chamado, nem parecermos ocupados mesmo quando estamos de verdade. Somos assim. Ainda bem.

Mas já avisei! Tô cancelando a minha conta...

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Aprendendo com o Natal

No meio do tumulto e do corre-corre atrás dos presentes de Natal, as opiniões se dividem entre aqueles que adoram a data e os outros que não vêm a hora do dia 2 de janeiro chegar. E continuam correndo com listas na mãos. As frases mais ouvidas neste período são: Dezembro já foi. O ano passou voando! Daí decidem como será comemorado deste ano. Na casa da sua ou da minha mãe? Peru ou chester ? Ou nada disso porque os preços estão pela hora da morte? E a sobremesa, quem é que ficou de fazer mesmo? A fulana que é uma “estraga-festa” vai ser convidada de novo? Melhor convidar porque, coitada, passar o Natal sozinha deve ser ruim. E o Papai Noel? As crianças já sacaram que existem vários impostores nas ruas e pelos shoppings mas o de verdade, ah….. esse virá na hora certa. Ou será que não?E as filas? Nas lojas, os vendedores atendem 1, 2, 3 clientes juntos. Nos supermercados, o desânimo só de olhar pra fila do caixa. Tem fila até na igreja para se confessar com o padre. A turma do “deixa disso” fica cada mais presente com as sugestões de sempre…… você vai ficar chateada por causa dessa bobagem? Deixa pra lá, releve……

Quem vai pra cozinha preparar a ceia? Quem coloca a mesa? Lava os pratos no final? Os presentes serão abertos antes ou depois da ceia? Está todo mundo de dieta, melhor esquecer os pratos calóricos….. mas também pra que? É apenas uma vez por ano…..A gente mal se dá conta que esses pequenos detalhes nos dão a oportunidade de exercitar, atos, gestos e pensamentos muito mais nobres do que imaginamos.

Gratidão
Cada vez que saimos e nos esprememos nas calçadas ou corredores de shoppings atrás de um presente para alguém, estamos querendo demonstrar a nossa gratidão. Somos gratos aos que nos são próximos e dessa mesma forma, gostaríamos de oferecer nem que fosse uma lembrancinha, um cartão, um telefonema que seja, para aquela pessoa que ficou do nosso lado neste ano. Pode não ter sido a toda hora, mas sem dúvida, nos momentos importantes. E agradecer é uma forma de reconhecimento. As vezes nos sentimos atados e impossibilitados de retribuir uma atitude generosa de alguém. Mas não podemos deixar de ao menos reconhecer. Quantas pessoas ao longo do ano nos ajudam? Quantas estão próximas e quantas possivelmente nem veremos mais?

Paciência
Outro exercício que fazemos no fim de ano e que seu aprendizado bem que poderia nos servir ao longo do próximo ano é o da paciência. A mesma que temos ao entrarmos em uma longa fila, ao esperarmos pela mocinha que está toda atrapalhada atendendo 3 ao mesmo tempo, aquela quando procuramos uma vaga para estacionar, enfrentarmos o empurra-empurra pra que a nossa criança saia na foto com o Papai Noel, pra pegar o presente já embrulhado e algumas vezes até pra pegarmos o papel para embrulharmos o presente! Bem que essa paciência poderia permanecer conosco ao longo do próximo ano para que tenhamos tempo de ouvir crianças e idosos, por exemplo. Que tenhamos tempo pra dizer o quanto alguém é importante em nossa vida e que esse alguém de preferência não seja somente aquele imaginamos ser o príncipe encantado, porque isso é fácil! Que tenhamos paciência para acompanhar alguém que precise a uma consulta médica. E quando fizermos isso, que seja de coração sem ficar a todo tempo olhando para o relógio. Que a gente consiga entender que os ritmos são diferentes em cada uma das fases de nossa vida. Que a gente consiga esperar pelo “tempo” das coisas e não passar por ele atropelando seja lá o que for.

Saber relevar
Quando decidimos negociar onde passar o Natal, abrimos mão do peru pelo chester, decidimos convidar a tal fulana da encrenca do ano passado, estamos na verdade relevando. Abrindo mão do nosso gosto em favor de agradar a outra pessoa. Isso também deveria permanecer ao longo de 2010. Quantas vezes somos estupidamente egoístas e deixamos de ser generosos? Em atitudes até mesmo banais como deixar um pedestre atravessar a rua em um dia de chuva quando estamos abrigrados dentro de um carro, dar a sua vez para uma gestante na fila do banco, entender que aquela pessoa disse aquilo em um momento de raiva, que não foi de coração e também nesta hora relevar. Aprender que ser uma pessoa boa não quer dizer ser uma pessoa boba.

Generosidade
Que esta generosidade que nos faz arrumarmos o guarda-roupa ou a caixa de brinquedo e doar aquilo que não nos será mais útil permaneça também no próximo ano. Generosidade com o outro independente de crença e raça afinal somos da mesma: raça humana. Respeito pelo gostar e querer do outro quando completamente diferente do nosso. Afinal gostar de quem compartilha dos mesmos gostos e ideais é fácil. Exercício é aprender a respeitar posições diferentes.

O Espírito de Natal
Talvez esse treinamento pelo qual passamos durante essa maratona de exercícios até o dia 2 de janeiro seja parte do “espírito do Natal”. Bem….. talvez tenha um dedo de Jesus nisso tudo tentando novamente nos mostrar o caminho. E que ELE possa ficar conosco inclusive, em todos os outros momentos de 2010. Feliz Natal!

Fabiana Lucato

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Gostoso é cinema com pipoca quentinha!

Adoro bater-papo. Se isso deu trabalho para minhas professoras de colégio que até hoje se lembram do quanto eu gostava de conversar na sala de aula, me ajudou muito na profissão. E quando o verão se aproxima, os assuntos sobre dieta, o caminho para chegar com os quilinhos a menos no verão para poder usar um biquini (de preferência aquele de lacinho no qual não cabe uma bocada de sorvete a mais, que crueldade) afloram. O que uma coisa tem a ver com a outra? Aparentemente nada...... MAS.... foi em um desses bate-papos informais sobre dieta que uma amiga, que vive as turras com a balança me confidenciou: “Odeio academia. Prefiro comer ração humana (uma gororoba que promete emagrecer), fazer a dieta da lua, do sol, da fruta, a puxar peso”.
- Mas quem disse que fazer academia é gostoso? Perguntei. Bom é ir para o cinema e comer pipoca quentinha, comer bolinho de chuva na casa da mãe, um pastel sequinho da feira, pizza de domingo a noite. Fazer ginástica é necessário, não exatamente “gostoso”. Como é escovar os dentes, lavar a mão antes das refeições, ler Machado de Assis antes do vestibular (esse aí as vezes a gente pula e só vai entender a riqueza que é 20 anos mais tarde). Da mesma maneira que a gente tem tempo pra comer as (pelo menos) 3 refeições diárias, temos que arrumar um tempinho para nos exercitar. Fazer alguma coisa, se não que nos dê prazer, que nos incomode menos. E também não cair na tentação de achar que vai virar atleta ou capa da Boa Forma em uma semana, se matar nas primeiras aulas e desistir depois. Exatamente como escovar os dentes. Um pouquinho, bem feito, todos os dias.

Nos meus 18 anos de bailarina clássica, me espantava ver Ana Botafogo, Nureyev, Mikhail Baryshnikov dançando com a leveza de pluma, semblantes tranqüilos a cada salto e sorrisos ao final das piruetas. Até hoje, quando chego na academia e a garota da esteira ao lado está correndo há mais de meia hora e parece nem se cansar, fico arrepiada. Imagino que como Nureyev ela também não se canse. Pior, é que rapidamente descubro que a velocista é casada como eu, tem filho como eu, trabalha como eu, faz dieta como eu, é normalíssima como eu e para meu espanto, ela se cansa como eu. Mas está mais acostumada, faz isso há mais tempo.

Um dia ainda consigo arrastar essa amiga pra academia comigo. E se não for pela saúde ou para perder peso, quem sabe para que a gente possa, longe do trabalho, das crianças, do tumulto do dia-a-dia, fazer o que realmente a gente gosta: bater-papo.

Fabiana Lucato

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Padre Alquermes

Para todo jornalista, pelo menos para aqueles que já estão na casa dos seus15 ou 20 anos de profissão, escrever em datas comemorativas como Natal, DiaInternacional da Mulher, Páscoa, Dia das Mães ou dos Pais é um exercício decriatividade. Vão se esgotando a cada ano as idéias geniais de textosinéditos, afinal a essência das datas são iguais, não mudam.

Era véspera de Natal, honestamente já nem me lembro de que ano, talvez 2007.Subi até a Catedral para que o Padre Alquermes pudesse me orientar, afinal,parecia que o tema já havia se esgotado. Era tanto sobre presentes, papaiNoel, reuniões de família e tão pouco sobre a essência da festa, Jesus. Opadre me recebeu, contei meu drama de todo ano procurar o novo e para minhasurpresa ele encontrou o tema diferente que eu precisava. ³Você escreve oJornal da Mulher. Que tal escrever sobre a participação feminina na vida deJesus?". A partir daí o que veio a seguir foi uma aula de história, fé ereligião que na época procurei traduzir aos leitores. No fim da entrevista,depois de quase uma hora, o padre ainda fez questão de me mostrarpessoalmente as melhorias que vinha fazendo na igreja. Enquanto caminhávamosda secretaria até a porta principal da Nossa Senhora das Dores, fui contandoque quando jovem fazia parte do coral tocando violão, depois do³Encontrinho² de jovens. Foi lá que fiz o curso de noivos. O que eu nãocontei é que me afastei de lá porque havia visto um outro padre, colocandopra fora com extrema grosseria um bêbado que havia entrado na igreja aprocura de água. Ainda enquanto conversávamos, reparei em algumas caixas comalimentos. O padre me contou que tudo aquilo era doação. Os fiéis doavampara a igreja que repassava aos mais necessitados. Mais pessoas como eu nãosabiam disso. Quando chegamos na frente da igreja, os olhos do padrepareciam de criança, tanto que brilhavam. ³Olha só que beleza ficou essapintura² me disse, contando sobre o artista e todas as outras pessoas queestavam envolvidas na restauração.

No domingo seguinte eu voltei aos bancos da Catedral, de onde confessoenvergonhada, havia me afastado. Igreja lotada como há tempo eu não via. Saíde lá dessa vez assim como em todas as demais vezes, mais leve, com umasensação de paz na alma e amor no coração.

Fui confessar, depois disso. O padre novamente me acolheu dizendo que muitasvezes pecamos mais por omissão que pelas nossas ações. E é exatamente poreste motivo que escrevo agora. Não poderia deixar de declarar minha tristezaem pensar na possibilidade de ver partir um ser humano de paz, agregador, deolhos brilhantes por conservar a casa do Senhor. E de imaginar com receio oque será daqueles mesmos bancos da igreja daqui para frente. Onde quer queesteja e pelo motivo que for o Padre Alquermes tem minha admiração, minhagratidão e meu mais profundo respeito .

Fabiana Lucato Zuin