quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Gostoso é cinema com pipoca quentinha!

Adoro bater-papo. Se isso deu trabalho para minhas professoras de colégio que até hoje se lembram do quanto eu gostava de conversar na sala de aula, me ajudou muito na profissão. E quando o verão se aproxima, os assuntos sobre dieta, o caminho para chegar com os quilinhos a menos no verão para poder usar um biquini (de preferência aquele de lacinho no qual não cabe uma bocada de sorvete a mais, que crueldade) afloram. O que uma coisa tem a ver com a outra? Aparentemente nada...... MAS.... foi em um desses bate-papos informais sobre dieta que uma amiga, que vive as turras com a balança me confidenciou: “Odeio academia. Prefiro comer ração humana (uma gororoba que promete emagrecer), fazer a dieta da lua, do sol, da fruta, a puxar peso”.
- Mas quem disse que fazer academia é gostoso? Perguntei. Bom é ir para o cinema e comer pipoca quentinha, comer bolinho de chuva na casa da mãe, um pastel sequinho da feira, pizza de domingo a noite. Fazer ginástica é necessário, não exatamente “gostoso”. Como é escovar os dentes, lavar a mão antes das refeições, ler Machado de Assis antes do vestibular (esse aí as vezes a gente pula e só vai entender a riqueza que é 20 anos mais tarde). Da mesma maneira que a gente tem tempo pra comer as (pelo menos) 3 refeições diárias, temos que arrumar um tempinho para nos exercitar. Fazer alguma coisa, se não que nos dê prazer, que nos incomode menos. E também não cair na tentação de achar que vai virar atleta ou capa da Boa Forma em uma semana, se matar nas primeiras aulas e desistir depois. Exatamente como escovar os dentes. Um pouquinho, bem feito, todos os dias.

Nos meus 18 anos de bailarina clássica, me espantava ver Ana Botafogo, Nureyev, Mikhail Baryshnikov dançando com a leveza de pluma, semblantes tranqüilos a cada salto e sorrisos ao final das piruetas. Até hoje, quando chego na academia e a garota da esteira ao lado está correndo há mais de meia hora e parece nem se cansar, fico arrepiada. Imagino que como Nureyev ela também não se canse. Pior, é que rapidamente descubro que a velocista é casada como eu, tem filho como eu, trabalha como eu, faz dieta como eu, é normalíssima como eu e para meu espanto, ela se cansa como eu. Mas está mais acostumada, faz isso há mais tempo.

Um dia ainda consigo arrastar essa amiga pra academia comigo. E se não for pela saúde ou para perder peso, quem sabe para que a gente possa, longe do trabalho, das crianças, do tumulto do dia-a-dia, fazer o que realmente a gente gosta: bater-papo.

Fabiana Lucato

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Padre Alquermes

Para todo jornalista, pelo menos para aqueles que já estão na casa dos seus15 ou 20 anos de profissão, escrever em datas comemorativas como Natal, DiaInternacional da Mulher, Páscoa, Dia das Mães ou dos Pais é um exercício decriatividade. Vão se esgotando a cada ano as idéias geniais de textosinéditos, afinal a essência das datas são iguais, não mudam.

Era véspera de Natal, honestamente já nem me lembro de que ano, talvez 2007.Subi até a Catedral para que o Padre Alquermes pudesse me orientar, afinal,parecia que o tema já havia se esgotado. Era tanto sobre presentes, papaiNoel, reuniões de família e tão pouco sobre a essência da festa, Jesus. Opadre me recebeu, contei meu drama de todo ano procurar o novo e para minhasurpresa ele encontrou o tema diferente que eu precisava. ³Você escreve oJornal da Mulher. Que tal escrever sobre a participação feminina na vida deJesus?". A partir daí o que veio a seguir foi uma aula de história, fé ereligião que na época procurei traduzir aos leitores. No fim da entrevista,depois de quase uma hora, o padre ainda fez questão de me mostrarpessoalmente as melhorias que vinha fazendo na igreja. Enquanto caminhávamosda secretaria até a porta principal da Nossa Senhora das Dores, fui contandoque quando jovem fazia parte do coral tocando violão, depois do³Encontrinho² de jovens. Foi lá que fiz o curso de noivos. O que eu nãocontei é que me afastei de lá porque havia visto um outro padre, colocandopra fora com extrema grosseria um bêbado que havia entrado na igreja aprocura de água. Ainda enquanto conversávamos, reparei em algumas caixas comalimentos. O padre me contou que tudo aquilo era doação. Os fiéis doavampara a igreja que repassava aos mais necessitados. Mais pessoas como eu nãosabiam disso. Quando chegamos na frente da igreja, os olhos do padrepareciam de criança, tanto que brilhavam. ³Olha só que beleza ficou essapintura² me disse, contando sobre o artista e todas as outras pessoas queestavam envolvidas na restauração.

No domingo seguinte eu voltei aos bancos da Catedral, de onde confessoenvergonhada, havia me afastado. Igreja lotada como há tempo eu não via. Saíde lá dessa vez assim como em todas as demais vezes, mais leve, com umasensação de paz na alma e amor no coração.

Fui confessar, depois disso. O padre novamente me acolheu dizendo que muitasvezes pecamos mais por omissão que pelas nossas ações. E é exatamente poreste motivo que escrevo agora. Não poderia deixar de declarar minha tristezaem pensar na possibilidade de ver partir um ser humano de paz, agregador, deolhos brilhantes por conservar a casa do Senhor. E de imaginar com receio oque será daqueles mesmos bancos da igreja daqui para frente. Onde quer queesteja e pelo motivo que for o Padre Alquermes tem minha admiração, minhagratidão e meu mais profundo respeito .

Fabiana Lucato Zuin