quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Padre Alquermes

Para todo jornalista, pelo menos para aqueles que já estão na casa dos seus15 ou 20 anos de profissão, escrever em datas comemorativas como Natal, DiaInternacional da Mulher, Páscoa, Dia das Mães ou dos Pais é um exercício decriatividade. Vão se esgotando a cada ano as idéias geniais de textosinéditos, afinal a essência das datas são iguais, não mudam.

Era véspera de Natal, honestamente já nem me lembro de que ano, talvez 2007.Subi até a Catedral para que o Padre Alquermes pudesse me orientar, afinal,parecia que o tema já havia se esgotado. Era tanto sobre presentes, papaiNoel, reuniões de família e tão pouco sobre a essência da festa, Jesus. Opadre me recebeu, contei meu drama de todo ano procurar o novo e para minhasurpresa ele encontrou o tema diferente que eu precisava. ³Você escreve oJornal da Mulher. Que tal escrever sobre a participação feminina na vida deJesus?". A partir daí o que veio a seguir foi uma aula de história, fé ereligião que na época procurei traduzir aos leitores. No fim da entrevista,depois de quase uma hora, o padre ainda fez questão de me mostrarpessoalmente as melhorias que vinha fazendo na igreja. Enquanto caminhávamosda secretaria até a porta principal da Nossa Senhora das Dores, fui contandoque quando jovem fazia parte do coral tocando violão, depois do³Encontrinho² de jovens. Foi lá que fiz o curso de noivos. O que eu nãocontei é que me afastei de lá porque havia visto um outro padre, colocandopra fora com extrema grosseria um bêbado que havia entrado na igreja aprocura de água. Ainda enquanto conversávamos, reparei em algumas caixas comalimentos. O padre me contou que tudo aquilo era doação. Os fiéis doavampara a igreja que repassava aos mais necessitados. Mais pessoas como eu nãosabiam disso. Quando chegamos na frente da igreja, os olhos do padrepareciam de criança, tanto que brilhavam. ³Olha só que beleza ficou essapintura² me disse, contando sobre o artista e todas as outras pessoas queestavam envolvidas na restauração.

No domingo seguinte eu voltei aos bancos da Catedral, de onde confessoenvergonhada, havia me afastado. Igreja lotada como há tempo eu não via. Saíde lá dessa vez assim como em todas as demais vezes, mais leve, com umasensação de paz na alma e amor no coração.

Fui confessar, depois disso. O padre novamente me acolheu dizendo que muitasvezes pecamos mais por omissão que pelas nossas ações. E é exatamente poreste motivo que escrevo agora. Não poderia deixar de declarar minha tristezaem pensar na possibilidade de ver partir um ser humano de paz, agregador, deolhos brilhantes por conservar a casa do Senhor. E de imaginar com receio oque será daqueles mesmos bancos da igreja daqui para frente. Onde quer queesteja e pelo motivo que for o Padre Alquermes tem minha admiração, minhagratidão e meu mais profundo respeito .

Fabiana Lucato Zuin

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